quinta-feira, 28 de abril de 2011

Serra da Paixão "Zâmbia descobre a verdade sobre Marta"

Após a troca de cerimônias entra para a casa grande e se farta em um belo almoço a recepção e digna de um rei as apresentações são feitas e logo todos estão a conversar sobre a grande noite que lhe esperam, no ribeirão Marta e Ione estão sentadas em uma grade pedra.
-         Por que está tão triste Marta?
-         Não estou triste Ione só um pouco pensativa.
-         E no que pensa?
-         Na noite de hoje eu vou conhecer o homem com qual eu irei me casar passar a minha vida não e para ficar pensativa?
-         E sim mais ele deve ser um homem muito bonito você não precisa se preocupar.
-         Não e questão de beleza Ione e sim de sentimento, na senzala vocês escolhem seus próprios maridos.
-         Pelo menos para isso somos livres, mais muitas de nós não queremos filhos para não ver sofrer como nosso povo na lida, muitos abortos acontecem lá dentro da senzala, esse um amor repelido pelo chicote.
-          Nem sempre os nossos problemas são maiores do que o do outros.
-         Você vai ser muito feliz não se preocupe.
-         Tomara Ione. Você está com uma cara de noite mal dormida não dormiu bem está noite?
-         Não estou acostumada a dormir fora da senzala.
-         Certo que a de se acostumar, sobre o seu amado que foi para guerra você sabe noticias.
-         Não deve ter morrido são poucos os que voltarão.
-         E você sente saudades?
-         Às vezes mais, o tempo apaga ate as boas lembranças.
-         Isso que dizer que você não sente mais nada por ele?
-         Foi o primeiro amor mais te digo com certeza que sofri quando ele se foi, mais hoje não sofro mais.
-         E se ele voltar o que você faria?
-         Não sei, mais com os negros não existe felicidade eterna não constituímos família e almoçamos e jantamos em volta da mesa e rimos do dia de trabalho não existe contos de fada na senzala.
-         Nossa quanta amargura Ione!
-         Se nosso sofrimento fosse só um casamento arrumado sinhazinha Marta, não existiria essa amargura em meu peito.
Marta e Ione ficam em sua prosa e desenrolar das horas vai passando, Jarty e Cauã, pescam no remanso do Paraibão.
-          Hoje o rio não ta pra peixe.
-         O rio sempre terá peixe Cauã.
-         Você viu os homens que chegaram lá na fazenda, eles são brancos que nem a lua.
-         Por isso que Maciel não quis vir pescar junto com a gente?
-         Deve ser Jarty ele não e de faltar a uma pescaria nossa.
-         Eles devem ter vindo para festa da sinhazinha Marta que será hoje.
-         Acho que eu peguei um, nossa é e do grande Jarty!
-         E mesmo! Vamos fazer uma fogueira para comer esse peixão.
-         Ainda e cedo Cauã o sol ainda não se foi.
-         Mais eu já estou com fome Índio.
-         Olhe está vindo alguém pela trilha.
-         Quem será à uma hora dessas.
-         E uma charrete e um negro nela.
-         Deve ser Surue.
-         Não e não e muito magro.
A charrete vai se aproximando dos dois meninos e logo já está bem perto o cavalo e conduzido lentamente pelo condutor.    
-         Meu Deus é o meu irmão Jarty!
-         Keire?
-         Não! Zâmbia!
Os dois meninos correm em direção à charrete e o cavalo e parado, Cauã olha admirado para seu irmão enquanto Jarty fica sem entender nada.
-         Zâmbia!
-         Cauã seu moleque!
-         O que você faz por aqui não estava na guerra dos brancos?
-         A guerra acabou meu irmão agora eu sou um negro livre tenho minha carta de alforria.
-         Para onde você está indo o Barão vai colocá-lo novamente na lida vá embora meu irmão.
-         Não meu irmão eu estou indo fazer uma entrega para o Barão eu agora não sou mais escravo eu trabalho na venda do seu Credencio lá na cidade.
-         Nossa tudo isso aconteceu enquanto você estava fora?
-          E nossa mãe?
-         Ela chora todos os dias por você.
-         Diga a ela que não chore eu estou bem, eu tenho que ir, mais logo eu voltarei para vê-la, não fale a mais ninguém que me viu, eu vou até a casa grande, entrarei pelos fundos para que ninguém me veja, entregarei a coisas e logo voltarei para a cidade.
-         Está bem irmão.
-         E você Jarty fique de boca fechada!
-         Eu não vou falar nada
-         Obrigado índio até a vista.
-         Tome muito cuidado Zâmbia!
-         Keire está na lida?
-         Sim ele está colhendo café.
-         Deixe-me ir antes que fique tarde.
-         Até Zâmbia.
-         Até meu irmão.
Zâmbia segue em direção à fazenda enquanto Cauã e Jarty seguem em direção ao cafezal à vontade de Cauã em encontrar a sua mãe e tanta que o mesmo até esquece-se da fome e do peixe.
-         Vamos Jarty eu quero encontrar minha mãe e acabar com seu sofrimento.
-         Calma, eu já estou indo mais e o peixe?
-         Devolve para rio!
-         Mas eu to falando eu demoro um tempão pra pegar o danado e vou ter que devolver!
-         Vai logo índio depois pega outro.
-         Já vou devolver o mais bicho já está quase morto.
-         Para de prosa e vamos logo índio.
A charrete de Zâmbia chega aos fundos da casa grande logo Tonhá vai atendê-lo.
-         Nossa meu Deus mais não o menino da negra Geruza?
-         Sim Tonha eu mesmo eu vim entregar a encomenda do Barão.
-         Eu já vou chamar Surue para carregar.
-         Não Tonha depois que eu for embora você chama não quero que ninguém me veja por aqui.
O Capitão Rubens está?
-         Sim ele está fazendo sala para visita que chegou hoje.
-         Eu os vi passando pela cidade, e a sinhazinha Marta.
-         Marta foi até o ribeirão junto com sua mucama.
-         Certo Tonhá está entregue agora eu tenho que ir.
-         Você vai direto para cidade?
-         Sim eu tenho muito a fazer na venda.
-         Zâmbia!
-         Fale Inhá Tonhá.
-         Fique longe da sinhazinha Marta!
-         Pode ficar tranquila Inhá eu não conheço nenhuma sinhazinha Marta a menina que eu conheço se chama Michele e essa eu tenho certeza que eu não vou ver mais.
-         Zâmbia ela temeu que você fizesse algum mal a ela por se filha do Barão, e inventou esse nome de Michele.
-         E deve ter falado ao Barão que eu estava na casa da mata e que eu arrumo um jeito de ver minha mãe.
-         Acha que se Marta tivesse falado ao Barão, ele não teria mandado o Capitão do Mato atrás de você.
-         Não defenda aquela mentirosa ela filha daquele mostro não pode ter um coração bom.
-         Você está enganado Zâmbia, a menina Marta tem um coração de ouro, mais e bom que pense desse jeito e fique bem longe dela.
-         Eu ficarei Inhá, fique tranquila.
-         Vá e que Oxalá te acompanhe.
Zâmbia deixa a encomenda e segue com a charrete em direção à cidade toma distancia da fazenda e entra na trilha após passar algumas arvores para a charrete amarrando-a em arbusto, ele segue a pé em direção ao ribeirão, onde a vista Marta e sua mucama, ele sabe que não pode se revelar à mucama aguarda que a negra vá se banhar como faz sempre antes de ir embora se aproxima como uma cobra fica mais perto o suficiente para que não seja avistado pelas duas. Algum tempo depois.
-         Marta eu vou me banhar, você não vem?
-         Não Ione eu vou ficar aqui na pedra não vá muito longe.
Ione entra no ribeirão se distanciando de Marta oportunidade exata para que Zâmbia possa se aproximar de Marta chegando por traz da menina e tampando sua boca.
-         Calma! Sou eu Zâmbia.
-         Você está louco que me matar de susto?
-         Não queria assustá-la.
-         Como sabia que eu estava aqui?
-         Eu não sabia mais eu vim entregar uma encomenda para o Barão e Inhá deixou escapar que você estava aqui.
-         Alguém te viu por lá?
-         Tonhá e Cauã mais eu pedi segredo, o restante estão ocupados com a visita que a na casa do seu pai.
-         Então você já sabe de tudo.
-         Tudo o que?
-         Que eu sou Marta Ferraz de Vasconcelos filha do Barão.
-         Sei também que uma mentirosa e que eu não devo confiar e você.
-         Olha aqui Zâmbia eu menti porque eu tive medo eu não te conhecia e havia um negro que havia fugido na noite anterior.
-         Mais você sustentou essa mentira mesmo sabendo que eu não iria ter fazer mal algum.
-         Sustentei porque se você soubesse que realmente sou não teria confiança em minha pessoa, coisa essa que está acontecendo agora.
-         Só vim te falar que agora eu sei a verdade e não vou mais incomoda-la.
-         Se e só isso pode se retirar, há antes que eu esqueça, eu falei com sua mãe que você está vivo e muito bem.
-         Ela já sabe e como ela está?
-         O que adianta eu te dizer você não confia mais em mim!
-         Peço perdão pelas minhas palavras, mais me fale de minha mãe.
-         Ela está bem Zâmbia está na lida agora menos angustiada por que tem noticias suas.
-         Agradeço por ter lhe dado noticias minha.
-         Não me agradeça eu só quis ajudar.
-         Eu tenho que ir, eu acho que você também. 
-         Então o barão Torres e sua família chegaram?
-         Está falando da visita em sua casa.
-         Eles estão lá para festa.
-         A sua festa e noivado?
-         Como sabe disso?
-         O povo da cidade não fala de outra coisa até seu Credencio foi convidado.
-         Bem eu tenho que me apressar meu pai não vai gostar nada se me demorar.
-         Marta eu preciso ver a minha mãe você falou que iria me ajudar já que posso confiar em você peço que me ajude.
-         Eu vou te ajudar, essa noite todos estará na festa eu vou pedir que Surue, sirva bebida forte para o Lourenço ele vai ficar bem longe da senzala, não será difícil você encontrar a sua mãe, de um jeito de entrar e não se demore em sair.
-         Obrigado Marta eu fico muito agradecido.
-         Agora você tem sair antes que minha mucama volte.
-         Já estou indo eu quero dizer como os brancos dizem no dia de festa.
-         Há... Meus parabéns! Feliz aniversário!
-         Isso, meus parabéns! Feliz aniversário!
-         Obrigado Zâmbia, mais tome cuidado nessa noite.
-         Tomarei Marta.
-         Agora vá, pois minha mucama está voltando vá.
-         E como se chama sua mucama?
-         Pare de conversa Zâmbia e vá antes que ela volte e vê se toma cuidado nesta noite.
-         Está bem já estou indo.
Zâmbia se retira antes da chegada de Ione, corre em direção a trilha para alcançar a charrete, ele sobe na charrete e toca o cavalo em direção à cidade pensando na noite que virá e poderá em fim matar a saudade de sua mãe.

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