sexta-feira, 15 de abril de 2011

Marta vai cafezal.

Serra da Paixão.

Mais antes que os cavalos a atravessem a cerca Marta corre para dentro a gritar por Ione, passa pela sala da casa entra na cozinha como se fosse um relâmpago despertando a atenção de Inhá Tonha.
-         Porque tanta pressa Sinhazinha?
-         Quero aproveitar o sol da manhã para me banhar.
E cadê Ione? 
-         Está lá fora, ela foi jogar no lixo uma sobra do café.
-         Mais eu já estou de volta Sinhazinha, a Sinhazinha deseja alguma coisa?
-         Você vai me acompanhar até o ribeirão, mais nessa moleza toda água a de secar antes de chegarmos.
-         Mais já estou pronta sinhá.
-         Então por que está me olhando vamos.
-         Sim sinhá.
Elas saem da casa rapidamente, no caminham encontram Jarty e Cauã, os dois só observam as duas moças passarem, mais não se atrevem a falarem nenhuma palavra, logo atrás o jovem Maciel vem apagando as pegadas das duas.
-          Vamos até ao Paraibão Maciel?
-         Fazer o que no grande rio Jarty, pescar ou nadar?
-         Nem uma coisa nem outra nós vamos até a ilha buscar cacau.
Cauã amarrou a canoa perto do remanso e deixou um facão.
-         Ta bem só irei avisar meu pai que irei buscar cacau vão seguindo a frente e logo os alcançarei leve junto o Pescador!
Jarty da um assovio e correndo e latindo lhe responde o cachorro Pescador os meninos seguem em direção à ilha ao chegarem perto do Paraíba Cauã corre em direção ao imenso rio se jogando em um mergulho.
-         Nossa essa água está muito fria.
-         Prefiro ficar aqui sentado, tomara que Maciel não demore muito se não vou atravessar o rio e ele que vá a nado.
-         Até que ia ser divertido.
De repente os sorrisos são interrompidos por um rosnar forte, Jarty como um peixe se joga no ribeirão observa atento todo rio mais nada encontra, Pescador late em uma direção mais o som que tanto assustará os meninos não se repete.
-         Mais que barulho foi esse índio?
-         E eu sei lá parece um gato grande.
-         Será que e a pintada? Nós vamos morrer?
-         Deixa de falar besteira o barulho já parou.
-         Mais as capivaras estão correndo para dentro do rio parecem assustadas.
-         Vamos esperar aqui dentro. Eu nunca vi onça nadar.
-         Sei não índio! Negros da senzala falaram que já viram a Pintada no Paraíbão.
-         Mais aqui ela a de ser mais lenta.
Os meninos ficarão dentro do rio até a chegada de Maciel, quando eles lhe contaram a história o menino Maciel de boas gargalhadas.
-         Você Jarty não diz ser caçador?
-         Jarty ser grande guerreiro não tem medo de onça.
-         Você e o Cauã têm a coragem de um rato.
Entre uma gargalhada e outra seguem direto para a canoa que irá atravessá-los para a ilha, aquela pequena porção de terra no meio do rio se tornava uma grande aventura para os três.
Marta e Ione seguiam para o ribeirão em direção da casa da mata a onde mais uma vez Marta esperava encontrar Zâmbia sem que Ione ao menos desconfie de tal pretensão.
-         Você já amou alguém Ione?
-         Sim sinhá eu já gostei por demais de um escravo.
-         E o que você sentia? Quer dizer como você se sentia como ficava?
-         O meu coração batia mais forte a minhas pernas tremiam uma vontade de estar próximo.
-         E por que não matava essa vontade?
-         Quando não o Gil Pará era a chibata do Capitão do Mato.
-         Em você?
-         Não nele.
-         E como ele se chama?
-         Zâmbia.
-         E o que aconteceu a ele ainda está na senzala.
-         Foi para a guerra deve estar morto.
A menina Marta descobre que o coração de sua mucama batia forte pelo mesmo homem que o dela bate agora, o silencio de Marta faz o assunto termina ali sem mais perguntas e sem mais resposta por alguns minutos o silencio falava alto no pensamento de Marta.
“O que fazer? Não posso falar para ela que Zâmbia está na mata, mais eu prometi que avisaria sua mãe que ele está vivo”.
-         Eu quero que você me aguarde aqui Ione, preciso ficar um pouco sozinha.
-         Sim Sinhá eu estarei aqui.
-         Você pode se banhar aqui próximo às pedras mais tome cuidado! Os meninos costumam a chegar perto das pedras para mergulharem.
-         Sim sinhá eu tomarei cuidado.
-         Eu vou até a casa da mata quero dar uma olhada por lá.
-         Está bem eu estarei aqui a lhe esperar.
A menina Marta segue adiante a poucos metros lá está à casa da mata e dentro da casa está Zâmbia.
-         Olá como está?
-         Michele!
-         Por que a surpresa não me aguardava?
-         Tu sabes que até sonhei com tua chegada.
-         E gostou do sonho?
-         Claro que sim.
-         E como era a minha chegada?
-         Era como sol encontrando lua o dia encontrando a noite.
-         Eu já ouvi que isso pode acontecer e chamado de eclipse.
-         Mais como acontecer pôs o dia e dia e a noite e noite.
 Oxalá faz tudo em seu devido lugar.
-         Ele também fez o sonho e me colocou dentro dele?
-         O seu lugar não e no meu sonho.
-         Ninguém domina o sonho Zâmbia.
-         Desculpe-me à pergunta mais você conseguiu falar com alguém lá na Meriza?
-         Não hoje o Imperador passou pela fazenda e estava uma correria só.
-         Bem hoje e ultimo dia que durmo na casa da mata agora eu estarei na cidade, seu Credencio me deu um quarto no fundo da mercearia onde posso descansar.
-         Pena já estava me acostumando com nossos encontros matinais.
-         Verdade?
-         Sim e verdade eu gosto de conversar com você, mais a coisas agora vão melhorar você está empregado e logo terá dinheiro para comprar sua mãe.
-         Assim eu espero mais você pode ir sempre à cidade.
-         Não costumo me ausentar da fazenda mais assim que eu poder eu irei.
-         Bem agora eu tenho que ir, eu não posso demorar.
-         Vá sim e assim que eu tiver noticias eu mando lhe avisar.
-         Até Michele.
-         Até Zâmbia.
Mais como as suas palavras foi também a sua retirada rápida, Marta segue em direção as pedras, Zâmbia fica como petrificado a olhar tão bela moça tão próxima, mais ao mesmo tempo tão distante, um sorriso brilhava em seu rosto e sem falar nem mais uma palavra só olhava a moça se afastar.
-         Vamos Ione.
-         Sim sinhá aconteceu alguma coisa?
-         Não, não aconteceu nada, vamos embora.
-         Só irei me vestir sinhá.
-         Está bem Ione se apresse.
 Você vai me levar ao cafezal!
-         Mais sinhá vosso pai não há de gostar de vê-la no cafezal.
-         Não me importa eu vou até o cafezal.
-         Sim Sinhazinha, mais oque a Sinhazinha vai fazer no cafezal?
-         Vejo que a curiosidade vive em sua natureza.
-         Perdão Sinhazinha eu não quis ser intrometida, mais pensei que pudesse lhe ajudar em algo.
-         E pode Ione.
-         Como Sinhazinha?
-         Calando a boca e ficando bem quietinha.
Zâmbia após alguns minutos termina de arrumar seus pertences que não são muitos, segue em       direção à cidade onde se encontra com seu Credencio.
-         Bom dia Zâmbia.
-         Maravilhoso seu Credencio.
-         E o que faz o moço estar tão irradiante nesta manhã.
-         Apenas o belo dia que nos deu Oxalá.
-         Certo agora vai começar o trabalho a muito a fazer e vê se para de falar nesse tal Oxalá os padres não hão de gostar se ouvirem.
-         Sim senhor, eu já irei, eu vou começar pelos sacos de mantimentos.
-         Certo comece por lá.
No outro lado da praça padre Martins se espreguiça discretamente em frente à igreja.
-         Não dormiu bem padre.
-         Não Antonio é a velhice que está chegando. Mas o que o traz aqui logo cedo?
-         Vim a pedido do novo padre ele quer que eu faça algumas modificações na janela de seu quarto.
-         O padre não comentou nada comigo, mais vá lá ele está no fundo da sacristia, quando sai ele estava rezando.
-         Muito grato padre Martins.
Cavalos cruzam a cidade e comentário do dia e a passagem do imperador na fazenda do barão Ferraz de Vasconcelos, dona Adelaide há colocar algumas plantas em sua janela cumprimenta a Linda que passa por sua janela.
-         Olá Linda como está?
-         Bem dona Adelaide.
-         Está indo já para aula?
-         Sim os alunos já devem estar a me aguardar.
-         Então se aprese e mande lembranças a sua mãe.
-         Sim eu mandarei até logo.
-         Até logo.
-         Com estava conversando mamãe?
-         Com a menina Linda ela estava indo lecionar.
-         Faz bastante tempo que não há vejo passar. Será que ela ira a festa de Marta?
-         Tão pobre moça eu não sei se teria nem vestido para ir. Festa de gente tão apossada!
-         E mais a sua mãe e uma boa costureira ou esqueceu?
-         Pode ser. E você vai com aquele palerma ao seu lado?
-         Que palerma mamãe?
-         E tem outro palerma a não ser o Pascoal?
-         Mãe eu não gosto quando se refere a Pascoal desse jeito.
-         Sinto muito minha filha coisa que sua mãe tem e franqueza.
-         Eu vou arrumar o meu quarto para essa prosa terminar por aqui mamãe.
-         Vá sim minha filha enquanto arruma pense em como vai ser sua vida.
Lucia pegue o pão da fornada! Lucia atenda o freguês! Lucia...
-         Nossa que cara e essa Lúcia?
-         E mamãe ela vivi pegando no pé implicando com o Pascoal fazendo ironias.
-         Você já deveria estar acostumada minha irmã.
-         Mais ela implica demais com o Pascoal e sempre a mesma conversa talvez se você arrumasse um pretendente ela largaria um pouco do meu pé.
 E você Virginia não tem ninguém que lhe interesse?
-         Ainda não conheci ninguém, mais na festa terei uma grande oportunidade talvez algum filho de barão se apaixone por mim.
-         Você e igual à mamãe só pensam em riqueza.
-         Um pouco de beleza também não seria nada mal mais eu não quero ficar o resto da minha vida atrás de um balcão Lúcia.
-         Estou cercada de duas ambiciosas, mais fique quieta e ajude a arrumar o quarto.
Enquanto as duas irmãs conversam na fazenda Meriza, Marta e Ione estão quase chegando ao cafezal.
-         Sinhá tem certeza que quer ir mesmo ao cafezal?
-         Sim Ione e não comente mais sobre isso.
-         Está bem logo na frente começa o cafezal.
A sinhá está procurando alguém?
-         Não Ione eu quero que fique aqui e me aguarde até eu voltar.
-         Sim Sinhazinha eu ficarei aqui.
Enquanto a jovem Marta adentra o cafezal a mucama Ione fica a espiar o destino dela seguindo-a passo a passo, Marta para em frente a um escravo e pergunta por Geruza o negro meio assustado aponta em uma direção sem se estender muito na reposta, e volta logo para lida, mais alguns pés de café e Marta encontra uma senhora que aparentava com a descrição dado pelo negro.
-         Olá você conhece a negra Geruza?
-         Sou eu sinhá mais eu não fiz nada de errado, eu estou trabalhando desde que o sol nasceu eu não parei ainda.
-         Calma eu não vou te machucar, você a mãe de Cauã?
-         Sim sinhá mais o que foi que aquele negrinho aprontou?
-         Nada eu só queria confirmar se era a senhora.
Marta fica observando a negra Geruza por alguns momentos, olha para fragilidade daquela mulher indefesa, sofrida, humilhada pela lida dura do cafezal, Geruza mal consegue olhar para a sinhazinha Marta sua voz tremula e a sua face séria e triste e surpreendida pelo sorriso de Marta.
Marta olha para um lado para outro para ver se não está sendo observada pela outras pessoas, mais os negros não se atrevem a olharem para duas ela continua a prosa.
-         E a senhora mesma tem o mesmo olhar dele.
-         Dele?
-         Sim dele o seu filho.
-         Cauã e bem parecido comigo.
-         Não estou falando de Cauã
-         Keire?
-         Também não.
-         Mas então de quem a sinhazinha está falando?
-         Estou falando de Zâmbia.
-         Meu Deus! E onde meu menino está?
-         Está bem Geruza, mas teme em aparecer na fazenda por conta de meu pai.
-         E será que eu posso ver meu menino?
-         Calma Geruza eu vou arrumar um jeito de você vê-lo, mais tenha paciência.
-         Muito agradecida Sinhazinha.
-         Não me agradeça ainda, mas fique calada por enquanto, agora eu tenho que ir, antes que o Capitão do Mato me veja proseando com você, meu pai não há de gostar.
-         Ate sinhazinha.
O olhar de Geruza fica a olhar os passos de Marta se afastando pelo meio do cafezal sem perceber que Ione segue para o local marcado, figindo para Marta que estava ali o tempo todo.
-         Vamos embora Ione, eu estou com uma fome daquelas!
-         Sim Sinhá, Mais eu posso perguntar?
-         Não Ione não pode e assunto se encerra por aqui. Entendeu?
-         Sim Sinhá.
Ione segue o restante do caminho de cabeça baixa sem tocar no assunto, na frente da casa grande Marta entra enquanto Ione da à volta pelo fundo ao virar a esquerda os seus passos são parados pelo corpo de Leonardo o seu olhar assustado se perde encontrando o chão, Leonardo com uma das mãos levanta o rosto da escrava olha para o fundo de seus olhos e com uma voz suave pergunta.
-         Como você se chama escrava?
-         Meu nome e Ione sinhozinho.
-         Bem e aonde você vai com tanta pressa está fugindo da senzala?
-         Estou seguindo para a cozinha onde minha sinhá me mandou que eu ficasse.
-         E quem e sua sinhá?
-         E a sinhazinha Marta.
-         Marta?
-         Sim a sinhazinha Marta.
-         Marta minha irmã?
-         Não sei se nessa casa deve haver outra, mais se o sinhozinho tem uma irmã chamada Marta deve se ela.
-         Claro que não tem outra Marta, mais mesmo assim veja como fala escrava não seja abusada o tronco não fica muito longe.
Os olhos do moço passeavam pelo corpo escultural da bela cabocla suas mãos segurando o seu rosto espremia com a os dedos os lábios carnudos de Ione, olhos nos olhos os dois ficam alguns segundos a admirar um ao outro, um grito de dentro da casa interrompe os dois.
-         Ione a onde você está?
-         Aqui Sinhazinha eu já estou entrando. Com sua licença sinhozinho?
-         Claro! Pode se retirar escrava.
Você está dormindo na senzala?
-          Não estou aqui junto com os outros escravos.
-         Vai que sua sinhá esta lhe chamando.
-         Com sua licença.
Ione se retira e logo está na cozinha, onde também estão Marta e Inhá Tonhá que está com um belo frango em suas mãos, o negro Surue está assentado ao lado de uma mesa com os olhos fixados no belo frango.
-         Estou indo servi a família.
-         Vá Inhá eu já estou indo para me juntar a eles só quero fazer uma pergunta para Ione. Por que demorou tanto Ione?
-         Eu estava respondendo algumas perguntas do sinhozinho.
-         Que sinhozinho?
-         O sinhozinho Leonardo.
-         O que Leo queria com você.
-         Ele pensou que eu estava passeando pela fazenda.
-         Está bem agora vai se lavar como algo que mais tarde precisarei de você.
-         Sim Sinhazinha.
Marta se retira da cozinha para se juntar a sua família, negro, Surue e Ione ficam e antes que Ione sai para se lavar a voz de Surue volta a sua atenção para ele.
-          Se eu fosse você ficava bem longe de Leonardo.
-         Por que Surue?
-         Não queira saber Ione só siga meu conselho.
-         Vou seguir mais agora eu vou me lavar para comer algo.

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