Os convidados aos poucos vão deixando a casa forma uma pequena caravana em direção à cidade o Barão Manolo faz questão de cumprimentar um por um pela presença e logo a casa está só com seus moradores e a família Torres.
Marta e Laiza preparam-se para se deitar, Laiza arruma uma cama improvisada, pois ela não quis aceitar dormir na cama de Marta e lhe tirar do seu conforto, o silencio da casa leva a duas moças a conversar em tom de voz bem baixo.
- Nossa Marta que bela festa.
- Foi uma bela festa mesmo.
- E Rubens porque se retirou tão cedo?
- Rubens não estava se sentido muito bem.
- O seu rosto estava molhado com lagrimas parece que ele andou chorando o animal morto devia ter muito valor para ele.
- Rubens e desse jeito uma montanha por fora, mais por dentro tem um coração mole.
- Marta eu espero que sejamos grandes amigas.
- Eu também espero Laiza, pois eu me simpatizei muito com você.
- Marta você conheces a todos os presentes hoje na festa?
- Sim, são quase todos moradores da cidade, mais o porquê da pergunta?
- Eu conheci um belo rapaz.
- E qual nome dele?
- Ele se chama Lindolfo.
- Eu o conheço Laiza, ele e o irmão de Linda a professora da cidade.
- Ele falou de uma irmã também falou que o canto que vinha da senzala era um canto de tristeza.
- Não percebi se os negros cantavam ladainha, a musica estava alta aqui dentro.
- Cantavam uma musica muito triste, a musica vinha da senzala um canto como um lamento que arrepiava a alma e fazia doer o coração, mesmo eu que não entendo nenhuma palavra dessa língua pude sentir essa emoção.
- Eu já ouvi este canto outras vezes Laiza desde criança meu pai tem escravos ao seu serviço.
- E você sabe por que eles estavam cantando?
- Não Laiza nunca se sabe qual o verdadeiro motivo, mais você estava falando de Lindolfo você se interessou por ele?
- Marta! Acho que sim ele um rapaz muito belo.
- Mais não e o tipo de rapaz para lhe fazer a corte.
- Porque diz isso ele já está comprometido com alguma moça da cidade?
- Não que eu saiba, mais falo isso pelo fato de você ser filha de um Barão do café e Lindolfo filho de um ferreiro e ainda ser caboclo, Lindolfo até seus quinze anos era mameluco trabalhava junto com seu pai que era o Capitão do Mato mais respeitado aqui de Resende, menino novo capturava escravo junto com o pai.
- E verdade você está com toda a razão meu pai já mais há de deixar mais também não precisa saber.
- O que você pretende fazer Laiza?
- No momento nada, pois agora estou indo dormir mais logo eu decidirei o que fazer e espero contar com sua ajuda se for o caso.
- Só tome cuidado com essa prosa e se precisar de minha ajuda eu estarei aqui.
- Muita agradecida Marta.
- Boa noite Laiza sonhe com os anjos, eu vou beber uma água antes de dormir.
Marta vai à direção à cozinha da casa grande passa pela sala na ponta do pé para que o Barão não a escute, logo que chega vê Inha Tonha proseando com Surué.
- Sinhazinha ainda não foi se deitar?
- Não eu vim tomar um gole de água, o que vocês dois está a conversar à uma hora dessa eu não lhe mandei descansar.
- Já estou indo deitar Sinhazinha.
- Espere Tonhá!
- Pois não sinhazinha deseja mais algo?
- O que aconteceu na senzala hoje?
- Sinhá eu não sei o que realmente aconteceu lá.
- Tonhá tu não sabes e mentir agora fale a verdade.
- Esta bem Sinhazinha logo ficara sabendo mesmo, só quero poupá-la, pois esta noite foi uma bela noite para a Sinhazinha.
- Nada que você falar mudara está noite agora me conte o que houve.
- Seu pai matou um dos escravos da fazenda.
- Isso eu já sei você sabe qual escravo foi e porque ele fez isso?
- Sinhá o porquê eu também acho que vosmicê sabe e o escravo que morreu foi o velho Nego Bento.
- Minha nossa senhora, por isso que Rubens estava tão triste!
- Meu povo sente a morte de Bento, agora cantam para Oxalá receber o nosso irmão.
- Eu também sinto pela morte dele.
- Mais a Sinhazinha sabe por que foi ocorrido não sabe?
- Porque a pergunta Tonhá?
- Porque Zâmbia estava na senzala, Surue me disse que o tiro era para Zâmbia e não para Bento.
- Tonhá não me diga que quer me culpar!
Eu estava ajudando um irmão seu a rever a mãe dele.
- Mais essa ajuda trouxe desgraça na casa dos negros e se a Sinhazinha não parar com essa historia pode acontecer mais desgraças.
- Desculpe-me Tonhà, mais você está sendo injusta comigo, eu só quis ajudar não queria ver ninguém morto e logo no dia do meu aniversario estou tão triste quanto qualquer um de vocês.
- Com sua licença Sinhazinha, eu já estou indo me deitar, pois amanhã eu tenho que acordar bem cedo.
- Então vá Tonhá e não me culpe pelo acontecido.
- Até sinhazinha.
- Até Tonhá.
- Com sua licença Sinhazinha eu também vou me deitar.
- Vá sim Surue e quanto aquele pedido que eu lhe fiz mais cedo, peço que guarde segredo.
- Fique tranqüila Sinhazinha, eu não vou falar nada eu prometo.
- Muita agradecida Surue, agora vá descansar antes que seus donos se levantem.
Marta se retira da cozinha agora em direção a seu quarto, o som da musica que vem da senzala e misturada pelo canto do galo e latido de Pescador, mais nada que desperte o sono alheio de dentro da casa grande a não ser o Barão que não conseguiu pregar os olhos e Rubens que bem cedo estava de pé.
- Bom dia Rubens.
- Sua benção.
- Por que tão cedo de pé?
- Eu irei até a senzala para que o corpo de Nego Bento seja levado para a mata e lá seja enterrado.
- Se você deseja enterra-lo, enterre-o apesar de não ser o costume.
E o que e isso em sua mão?
- E a carta de alforria a qual eu tinha prometido ao Nego Bento, por favor, assine.
- Eu não vejo o porquê assinar está carta Rubens ele já está morto.
- Eu prometi alforria-lo pena que eu não lhe dei essa alegria em vida.
- Meu filho eu, não queria ter atirado nele, estou muito arrependido e peço que me perdoe por isso.
- Peça perdão a Deus meu pai, pois tirou a vida de um inocente um homem bom que deu sua vida e a sua morte na mão do senhor, agora, por favor, assine.
Rubens com um lençol e com a carta de alforria assinada na mão se retira da sala e segue para a senzala, chegando lá ele mesmo abre os portões da senzala onde os negros ainda cantam e choram, ele solta três negros da corrente e pede para que enrolem o corpo de Nego Bento no lençol que ele tem as mãos, Gil Pará pede para ajudar a carregar o corpo e é atendido por Rubens.
- Ele era meu avô e morreu pedindo liberdade, Zâmbia a de pagar pela morte dele.
- Zâmbia não foi o culpado ele se jogou na frente do tiro como um herói.
- Negro nessa terra não e herói e apenas escravo Capitão.
- Mais um dia isso a de mudar, agora vamos antes que se aperte o sol.
Os negros carregam o corpo de Nego Bento para a mata, o capitão Rubens vai à frente com algumas ferramentas para que seja feita uma cova, lá na cidade na venda do senhor Credencio, Zâmbia já está de pé e aguarda que seu patrão se levante.
Zâmbia pensa no acontecido daquela noite sabe que o Barão não deixará por menos o acontecido, agora era aguardar o resultado daquela noite trágica.
Voltando a fazenda Meriza o Barão, vai até a senzala onde encontra Lourenço assentado.
- Bom dia Barão.
- Bom dia Lourenço pode colocar os negros na lida.
- Sim senhor Barão.
- Lourenço você não viu esse negro entrando aqui dentro da senzala ontem à noite?
- Eu não estava aqui, Surue disse que Inhá Tonhá estava preparando um prato e bebida e que eu fosse comemorar o aniversario da sinhazinha Marta e que era ordem do patrão eu só vi o negro quando eu voltei, pois eu tinha esquecido a faca aqui.
- Sei que homem de minha confiança Lourenço e pelo seu empenho esse escravo não conseguiu o que ele queria.
- E o que ele queria Barão?
- Ele queria soltar todos os seus irmãos libertar todos os escravos aqui da Meriza, hoje mesmo eu vou até a cidade para falar com o delegado Brandão a respeito disso e você vai comigo.
- O senhor vai falar da morte do negro?
- Eu sou um Barão e não tenho que esconder o que eu faço ou que não faço dentro das minhas propriedades, mais esse negro foi alforriado pelo próprio Imperador, e com essa política abolicionista que está acontecendo e bom ficarmos como avestruz pelo menos por enquanto, eu não quero levantar os olhos do Império para minha casa isso para os meus negócios seria péssimo.
- O senhor tem toda razão Barão.
- Agora vai e me chame Surue aqui eu preciso fazer algumas perguntas para aquele negro.
- Sim senhor barão, eu já estou indo.
Lourenço segue para chamar Surue à desconfiança do barão Manolo sobre o acontecido daquela noite recai sobre alguém da casa, não se demora muito e os dois já estão de volta, Surue se coloca a frente do Barão que começa a interrogar o escravo.
- Surue quem deu ordens a você para chamar Lourenço aqui na senzala?
- Ninguém patrão.
- E você veio assim mesmo por livre espontânea vontade?
- Sim senhor.
- Lourenço coloque esse mentiroso no tronco e bata até ele falar, porque negro na minha senzala não tem vontade própria.
- Sim senhor Barão.
O negro Surue temeroso com a ordem do Barão vai direto para tronco e Lourenço com um chicote de couro de boi dá chibatadas no escravo sem a mínima piedade, os gritos de dor de Surue são ouvidos pelos de mais negros da senzala.
- Surue eu vou perguntar novamente, quem mandou que chamasse Lourenço para a casa grande?
- Ninguém patrão.
- Lourenço continue a bater, quando ele estiver disposto a falar pare!
- Sim senhor Barão.
- Dê cinqüenta e depois que voltar dos cafezais continue até ele falar!
Lourenço conta às chibatadas e o negro Surue já está quase desmaiado no tronco, o Barão volta para a casa grande onde aguarda os convidados a se levantar para o café sabe que isso acontecerá mais tarde pelo fato de todos terem ido dormir fora do horário habitual, e por esse motivo segue para o seu quarto para descansar.
- Surue e melhor tu falar a verdade.
- Falar que verdade Lourenço de um jeito ou de outro eu iria para no tronco.
- Então realmente alguém o mandou me tirar da senzala ou você estava conluio contra o Barão com aquele escravo Zâmbia.
- Eu nunca vou trair a confiança de uma pessoa, agora faça teu serviço e não me pergunte nada seu maldito.
O negro se espreme de dor agarrado ao tronco, mais ele sabe que sua promessa feita a Marta não poderá ser quebrada, ele estava disposto a morrer naquele tronco sem acusar a verdadeira autora do pedido.