Ao entrar a sala Ione vê os casais formados e acho que pela primeira vez na vida bate um sentimento diferente em ver Leonardo junto com Virginia, a escrava mundou sua feição e sai em direção à cozinha passando rapidamente por Inha Tonhá.
- Que bicho que te mordeu Ione?
- Bicho nenhum Inhá, e que Marta no momento não esta precisando de mim.
- E por isso está tão invocada?
- Eu não estou invocada e esses sapatos que estão apertados.
- E só por isso mesmo?
- E só isso mesmo Inhá agora me deixa quieta.
- Está bem menina não precisa ficar assim eu só perguntei.
- Inhá você viu Surue?
- Ele está ai fora acabou de sair.
- Eu tenho que falar com ele, qualquer coisa eu estou lá fora.
- E o que você quer com Surue?
- Mais você e bem curiosa em Inhá Tonhá.
- Tá bom Ione, mais vê se não demora a sinhazinha Marta a de precisar de você.
Ione passa pela porta de saída da cozinha que dá para os fundos da casa grande, mais à frente está Surue pitando um cigarro de palha assentado em um tronco, observa achegada de Ione imóvel e calado na escuridão só abrasa destaca entre a pele negra e a escuridão.
- Surue eu tenho um recado para você.
- Diga Ione recado de quem?
- Da sinhazinha Marta ela falou que você não se ausente aqui da casa, pois precisa lhe falar.
- E ela falou o que era?
- Não ela não falou só mandou que eu lhe falasse.
- Está bem eu ficarei por perto.
- Agora me deixa ir que ela pode estar precisando de mim lá dentro.
- Vá e diga que eu estou por aqui.
Dado o recado Ione volta para a casa grande onde as musicas são insistentemente tocada, Marta já não está mais dançando conversa com sua mãe e seu pai que entre sorrisos abraçam a filha, Leonardo e Virginia dançam e conversam entre sorrisos da moça.
- Leonardo você não e muito de aparecer pela cidade?
- E uma vez ou outra quando tenho que buscar algo para meu pai.
- Você não vai à igreja, não e católico?
- Sabes que sou! Mais há tempos não vou à missa, pois a muito a fazeres aqui na fazenda.
- Eu se eu lhe pedir que vá nessa próxima missa?
- Está ai, mais beata do padre Martins!
- Não e que podemos firmar uma amizade se aparecer mais vezes na cidade.
- Desculpe Virginia, mais eu quase não tenho tempo o trabalho aqui na fazenda não para, mais eu prometo se achar um tempinho vago em meus afazeres eu irei a missa.
Na cozinha Maciel enche a mão de frutas e outras guloseimas e sem que ninguém perceba segue em direção à porta de saída.
- O que você está fazendo aqui menino?
- Inhá eu vou lá fora procurar Jarty eu quero levar alguma comida para ele e para Cauã.
- Mais o menino Cauã à uma hora dessas deve estar na senzala.
- Não Inhá, eu pedi ao meu pai que o deixasse fora da senzala essa noite para cuidar dos cavalos dos convidados.
- Moleque danado se não toma jeito.
- Agora eu vou lá Inhá eles devem estar famintos.
- Espere eu vou fazer um prato para eles.
- Então faça rápida antes que meu pai de falta de mim lá na sala.
- Certo garoto eu já irei preparar.
Inhá Tonhá prepara o prato para Maciel levar para Cauã e Jarty, na sala Maria vai cumprimentar o capitão Rubens enquanto Hermes conversa a respeito de café com o barão Manolo.
- Pensei que você fosse mais educado?
- E porque diz isso Maria.
- Não veio nos cumprimentar quando chegamos.
- Perdoe-me mais Leonardo se encarregou dos cumprimentos em nome de nossa família, mais achei melhor, pois estava muito mal acompanhada.
- E raiva ou ciúmes que sente de Hermes?
- Vamos dizer que seja as duas coisas, afinal ele conseguiu fazer a corte a moça mais bela dessa cidade.
- Você sempre atrevido Capitão.
- E você sempre linda Maria.
- Uma bela festa está, espero que você possa encontrar um grande amor.
- Fico comovido com sua preocupação em minha vida sentimental, mais o meu grande amor já foi encontrado.
- E quem seria?
- Estou falando com ela.
- Capitão me respeite.
- E desde quando e falta de respeito amar alguém?
- Desde que esse alguém seja comprometido.
- Mais, o seu compromisso ainda não e oficial.
- Mais não deixa de ser um compromisso, agora me de licença Capitão.
- Fique a vontade Maria.
Marta sorridente fala com todos os presentes, sua mãe conversa com dona Inês mais e interrompida pelo barão Manolo.
- Com sua licença?
- Pois não Barão.
- Peça para os empregados da casa que não deixe faltar bebida na taça dos convidados.
- Pode ficar tranquilo meu marido, eu não vou deixar que nada saia errado, a festa vai ser impecável.
- Mamãe eu vou até cozinha procurar Ione e fala com Tonhá.
- Bem minha filha vê se não demora e deselegante a aniversariante ficar ausente.
- Mamãe eu não me demorarei.
Marta procura brechas entre os convidados para chegar até o corredor que de acesso à cozinha, ainda muito parada pelos convidados que não cassam de felicitá-la pela data natalícia. Mais alguns passos e mais alguns convidados, pronto ela está no corredor onde encontra Ione e Tonhá que a recebe com um abraço.
- Minha menina você está linda.
- Obrigada Tonhá.
Ione você deu o recado para Surue?
- Sim Marta ele falou que ficaria atrás da casa grande e para eu chamá-lo assim que você mandasse.
- Bem eu irei rapidamente lá fora, pois preciso conversa com ele.
- Você fica por aqui e não deixe que minha mãe sinta minha ausência invente uma desculpa eu não demorarei.
- Está bem Marta.
Marta abre a porta da casa grande e segue em direção a fundos onde vê Surue que vem a seu encontro rapidamente, mais não vê que Maciel está se dirigindo para o estábulo e também não vê que o menino a vê a conversar com Surue.
- Pois não sinhazinha Marta.
- Surue eu quero que me faça um favor e não me faças pergunta sobre esse assunto.
- Está bem sinhazinha pode falar o que a sinhazinha deseja.
- Eu quero que sirva bebida forte para Lourenço, eu vou mandar Tonhá preparar um prato e sirva bebida para vocês dois eu quero que ele fique bastante contente.
- A sinhazinha Marta quer que eu o deixe bêbado?
- Você entendeu Surue não preciso explicar de novo, agora eu preciso ir, até e não fale a ninguém que eu lhe dei essa ordem eu ficarei muito grata a você.
- Até sinhazinha Marta?
O negro Surue acompanha Marta até a porta de entrada da casa e aguarda Tonhá com o prato, meio encabulado sua face faz um rápido modilho e em voz baixa tenta enterder as ordens de Marta.
- Mais por que ela quer Lourenço bêbado, não da para entender, mais ordens são ordens.
O negro Surue decide então chamar Lourenço e segue direção à senzala no caminho entre a casa e senzala vê os garotos se fartando com o prato de comida que foi preparado por Inhá Tonha.
- Olá Surue está indo para onde?
- Vou até senzala patrãozinho.
- E fazer o que na senzala à uma hora dessas?
- Eu vou procurar Lourenço.
- Vai procurar o diabo.
- Cauã não fale assim Lourenço só cumpre ordens.
- Mais cumpre com gosto Maciel.
- Isso e verdade Maciel.
- Eu sei Jarty, ele realmente gosta de colocar negros no tronco por pura maldade, mais chama-lo de diabo e aumentar seu prestigio.
- Com sua licença patrãozinho eu estou indo lá.
- Vá Surue eu não quis lhe atrasar.
- Mais que diabo ele quer com Lourenço uma hora dessas?
- Não sei Cauã mais e estranho talvez alguma ordem de meu pai.
- Pode ser.
- Agora cale a boca e coma, pois esse Índio esfomeado está comendo tudo enquanto falamos.
Na casa do senhor Antonio, Linda já está pronta ao sair do quarto deixa Miguel com o queixo caído.
- Nossa com todo respeito você esta linda.
- Agradecida pelo elogio, estou pronta podemos ir.
- E claro que sim perdão não quis deixá-la aguardando.
- Então vamos já estamos por demais atrasados?
- Sim a charrete está lá fora eu vou buscá-la.
Miguel e Linda realmente tem pressa já na estrada em direção à fazenda seu cavaloo vem em passos largos sem demonstrar cansaço e o rapaz investe na conversa com a moça.
- Tu não sabes como me deixa contente em aceitar o meu convite.
- Da mesma forma eu fico em você me convidar.
- Enquanto estive fora eu pensava muito em você Linda.
- Você agora veio para ficar?
- Sim eu vim para ficar e constituir uma família uma esposa e filhos, muitos filhos.
- Será uma moça de muita sorte aquela que alcançar seu coração.
- Você não pensa em se casar?
- Claro Miguel e sonho de toda moça.
- Mais, já existe algum pretendente?
- Não que eu saiba.
- Então eu posso ter todas as esperanças.
- Você me encabula falando desse jeito.
- E como quer que eu fale se falo somente a verdade?
- Tu estás falando serio Miguel?
- Claro que sim e porque haveria eu de brincar com assunto tão importante.
- Porque eu sou uma moça de família pobre filha de um antigo capitão do mato e uma índia, eu não sei se seus pais irão aprovar esse namoro.
- Basta que eu aprove se me aceitares eu farei a corte para você até o dia de nosso casamento.
Você me aceita?
- Claro que eu aceito Miguel, mais temos tempo para conversar e colocar a situação para nossos familiares.
- Então amanhã mesmo eu falarei a sua família.
- Peço que tenha calma antes eu quero conversar com meus pais e meu irmão.
- Eu terei toda a calma do mundo não quero e ache que meus sentimentos por você e apenas fogo de palha que se paga com uma leve garoa.
O casal segue em direção à fazenda, entre olhares apaixonado um beijo tímido de Miguel em sua amada, mais antes que eles cruzem a porteira da fazenda um cavalo ultrapassa a charrete e desvia pela cerca como se quisesse evitar a entrada principal.
- Nossa mais quem será esse louco?
- Eu não conheço.
- Parece estar com muita pressa.
- Mais não para a festa. Deve ser algum capataz do barão.
- Certo que seja.
- Vamos em frente estamos quase chegando.
O cavalo que ultrapassa a charrete de Miguel e montado por Zâmbia que antes de chegar ao fundo da senzala amarra o animal em uma arvore, ele pula a cerca e segue entre os arbustos se escondendo do Capitão do Mato, Zâmbia escolhe um local onde pode avistar Lourenço que está com a faca na mão apontando um graveto para passar o tempo.
Não se demora muito e Surue chega à frente da senzala, Zâmbia fica de longe observando o movimento dos dois será que Marta iria cumprir sua promessa talvez poderia ser só uma armadilha.
- Lourenço a Inhá Tonhá preparou um prato para você e disse que foi ordem do Barão Manolo.
- Então vamos, não posso fazer desfeita, não imaginei que o Barão iria se lembrar de mim, eu só vou lavar o rosto.
- E vamos que a bebida e comida da boa.
Após Lourenço lavar o rosto e secar em um pano que se encontrava dependurado na porta da senzala os dois seguem em direção à casa grande.
Lourenço não desconfia de nada que está para acontecer, Zâmbia vê que dois se retiram e já não mais empecilho para que ele poça chegar até a senzala. Ele corre pelo mato como uma onça na escuridão parece não ter esquecido nenhum detalhe do caminho que fazia há tempos atrás para a senzala, chega bem perto e força uma madeira despregada que logo lhe dá acesso ao interior da senzala.
- Keire cadê você?
- Zâmbia o que faz por aqui meu irmão?
Em um abraço apertado cumprimenta o irmão que há tempos não vê, e reconhecidos por muitos irmãos negros da velha lida e um deles vem em sua direção.
- Oxalá, mais não e o soldado?
- Sou eu mesmo Gil Pará.
- O que faz por aqui a promessa do Imperador não era fazer você livre?
- Sim agora sou um negro livre, mais precisa rever minha mãe.
- Se o Lourenço te pega aqui não sei não ele não vai gostar nada disso.
- Eu precisava correr este risco.
Keire cadê a mãe?
- Ela está mais no fundo deitada sobre a palha seca.
- Bem então vamos lá que eu quero vê-la.
Keire e Zâmbia vão até o fundo da senzala onde sua mãe cansada dorme sobre a palha feita um animal encolhido, os olhos de Zâmbia se enchem de lágrimas ao vê-la.
- Mãe! Sou eu.
- Zâmbia meu filho graças a Oxalá, eu pensei que não o veria mais.
- Mais eu estou aqui.
- Zâmbia, mais e muito perigoso eu quero que saia daqui meu filho, Lourenço pode apanhá-lo.
- Não se preocupe ele agora deve estar bebendo e comendo na casa grande. E você a onde está dormindo?
- Eu estou a trabalhar na venda do senhor Credencio agora ganho o meu dinheiro e vou ajuntar para poder pagar a sua liberdade e dos meus irmãos.
- O meu filho que Oxalá te ouça.
Na cozinha da casa grande Lourenço e Surue ao chegam ande são recebidos por Inhá Tonhá que já está com a bebida e as canecas para servi-los.
- Dê-me aqui essa garrafa negra!
- Está aqui Capitão quando termina pode pedir outra.
- Erga o caneco Surue vamos beber, pois eu não gosto de beber sozinho.
- Agradecido Lourenço.
Tonhá trás um pedaço de carne de porco para que Lourenço acompanhe com a bebida o pedaço grande e inteiro.
- Belo pernil esse mais eu esqueci a minha faca na hora em que fui lavar o rosto no lado do balde.
- Eu irei buscar para você Lourenço.
- Não deixa que eu mesmo vá buscá-la, aproveito para ver se está tudo em ordem não quero facilitara fuga de nenhum escravo.
- Lourenço não precisa ir até lá eu mesmo posso cortar a carne para você.
- Agradecido Tonhá, mais eu sem minha faca minha arma e meu chicote me sinto nú, e eu já falei que também vou dar uma olhada na senzala.
- Mais o senhor acabou de sair de lá agora, não bebeu nem meia caneca de vinho e ninguém a de fugir hoje.
- E bom não facilitar Surue seus irmãos são como ratos se eu vacilar, eles caem para mata e fica mais difícil captura-los.
Vê se não vai beber tudo!
O perigo da volta de Lourenço para a senzala e certamente a preocupação de Inhá Tonhá, Zâmbia que está tranqüilamente a conversar não espera está volta repentina. Ao chegar Lourenço escuta as vozes dentro da senzala e em um rápido movimento abre o grande portão da senzala, Zâmbia sem êxito se joga ao chão mais e visto por Lourenço que saca de sua arma, Zâmbia rasteja até a passagem na tabua, mais Lourenço adverte sua ação com um disparo que ouvido por toda a fazenda.
- Parado ai negro fujão!
Zâmbia com medo atende ao mandato de Lourenço e encosta-se à parede de tabua da senzala, Lourenço vai até ele e se surpreende ao vê-lo, mais o arrasta até o tronco onde o amarra.
Na casa grande os convidados comentam sobre o disparo que foi dado no lado de fora, o barão Manolo avisa a Baronesa para acalmar os convidados, pois iria ver o que houvera acontecido, o capitão Rubens e Leonardo o acompanha.
- Fiquem todos calmos não há de ser nada deve ser algum escravo metido a fujão, meu marido e meus filhos já está indo ver o que realmente aconteceu.
Os convidados novamente começam a conversar e aproveitar a festa, mais Marta com o coração apertado pensa no que teria acontecido. “Será que Lourenço atirou em Zâmbia algo dera errado no meu plano...”.
O barão e seus filhos seguem em passos longos para a senzala e já tem mais companhia trata-se de Jarty, Cauã, Surue e Maciel que se junta ao Barão.
- Surue.
- Pois não Barão.
- Você viu alguma coisa estranha?
- Não senhor, eu não vi nada estranho.
- Volte e monte guarda a frente da casa não deixe que ninguém estranho passe por aquela porta.
- Sim senhor barão.
Surue volta para a casa grande onde monta guarda como mandou o Barão, os garotos ainda seguem o Barão que não os dirigem a palavra e nem rejeita a companhia dos três, ao chegar à frente da senzala vê um negro amarrado mais o negro está com rosto virado ao tronco impossibilitando assim o seu reconhecimento por imediato.
- O que houve Lourenço?
- Esse negro estava dentro da senzala Barão.
- Você andou bebendo criatura e o lugar de negro não e na senzala!
- E sim barão, mais esse daí e um dos negros que o senhor mandou para morrer na tal guerra lá no Paraguai.
- Deixe-me ver a cara dele!
E verdade o danado voltou vivo e já voltou para arapuca, de umas vinte chibatadas e o coloque ele dentro da senzala amanhã coloque ele na lida.
- Não meu pai o senhor não pode fazer isso ele e um negro livre não e mais o seu escravo.
- E quem deu liberdade para ele Rubens?
- O Imperador, Zâmbia mostre sua carta alforria!
- Você conhece esse negro?
- Lutamos juntos.
- E a carta está assinada e tem o brasão da família real não posso contesta a veracidade da carta, mais se ele e livre e está dentro da minha terra sem ser convidado e invasor e para não piorar a situação porque hoje e dia de festa eu vou deixá-lo no tronco até amanhã para que ele aprenda a não invadir a minha terra.
- Pai o senhor não entendeu ele e livre deixe-o ir ele não voltará mais aqui.
- Você está me dando ordem Rubens?
- Não senhor eu só não concordo em deixá-lo ai.
- Ele deu sorte de eu não meter uma bala em sua cabeça está área e particular.
- Com respeito ao senhor Barão eu prefiro morrer de que passar uma noite nesse tronco imundo.
- Cale-se negro eu não mandei você falar.
- Eu sou livre Barão e agora ninguém segura mais a minha língua.
- Seu negro insolente vai aprender a respeitar o barão Ferraz de Vasconcelos, solte Lourenço para que ele morra em liberdade.
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