sábado, 14 de maio de 2011

Serra da Paixão "Surue vai para tronco para defender Marta"

Os convidados aos poucos vão deixando a casa forma uma pequena caravana em direção à cidade o Barão Manolo faz questão de cumprimentar um por um pela presença e logo a casa está só com seus moradores e a família Torres.
Marta e Laiza preparam-se para se deitar, Laiza arruma uma cama improvisada, pois ela não quis aceitar dormir na cama de Marta e lhe tirar do seu conforto, o silencio da casa leva a duas moças a conversar em tom de voz bem baixo.
-         Nossa Marta que bela festa.
-         Foi uma bela festa mesmo.
-         E Rubens porque se retirou tão cedo?
-         Rubens não estava se sentido muito bem.
-         O seu rosto estava molhado com lagrimas parece que ele andou chorando o animal morto devia ter muito valor para ele.
-         Rubens e desse jeito uma montanha por fora, mais por dentro tem um coração mole.
-         Marta eu espero que sejamos grandes amigas.
-         Eu também espero Laiza, pois eu me simpatizei muito com você.
-         Marta você conheces a todos os presentes hoje na festa?
-         Sim, são quase todos moradores da cidade, mais o porquê da pergunta?
-         Eu conheci um belo rapaz.
-         E qual nome dele?
-          Ele se chama Lindolfo.
-         Eu o conheço Laiza, ele e o irmão de Linda a professora da cidade.
-         Ele falou de uma irmã também falou que o canto que vinha da senzala era um canto de tristeza.
-         Não percebi se os negros cantavam ladainha, a musica estava alta aqui dentro.
-         Cantavam uma musica muito triste, a musica vinha da senzala um canto como um lamento que arrepiava a alma e fazia doer o coração, mesmo eu que não entendo nenhuma palavra dessa língua pude sentir essa emoção.
-         Eu já ouvi este canto outras vezes Laiza desde criança meu pai tem escravos ao seu serviço.
-         E você sabe por que eles estavam cantando?
-         Não Laiza nunca se sabe qual o verdadeiro motivo, mais você estava falando de Lindolfo você se interessou por ele?
-         Marta! Acho que sim ele um rapaz muito belo.
-         Mais não e o tipo de rapaz para lhe fazer a corte.
-         Porque diz isso ele já está comprometido com alguma moça da cidade?
-         Não que eu saiba, mais falo isso pelo fato de você ser filha de um Barão do café e Lindolfo filho de um ferreiro e ainda ser caboclo, Lindolfo até seus quinze anos era mameluco trabalhava junto com seu pai que era o Capitão do Mato mais respeitado aqui de Resende, menino novo capturava escravo junto com o pai.
-         E verdade você está com toda a razão meu pai já mais há de deixar mais também não precisa saber.
-         O que você pretende fazer Laiza?
-         No momento nada, pois agora estou indo dormir mais logo eu decidirei o que fazer e espero contar com sua ajuda se for o caso. 
-         Só tome cuidado com essa prosa e se precisar de minha ajuda eu estarei aqui.
-         Muita agradecida Marta.
-         Boa noite Laiza sonhe com os anjos, eu vou beber uma água antes de dormir.
Marta vai à direção à cozinha da casa grande passa pela sala na ponta do pé para que o Barão não a escute, logo que chega vê Inha Tonha proseando com Surué.
-         Sinhazinha ainda não foi se deitar?
-         Não eu vim tomar um gole de água, o que vocês dois está a conversar à uma hora dessa eu não lhe mandei descansar.
-         Já estou indo deitar Sinhazinha.
-         Espere Tonhá!
-         Pois não sinhazinha deseja mais algo?
-         O que aconteceu na senzala hoje?
-         Sinhá eu não sei o que realmente aconteceu lá.
-         Tonhá tu não sabes e mentir agora fale a verdade.
-         Esta bem Sinhazinha logo ficara sabendo mesmo, só quero poupá-la, pois esta noite foi uma bela noite para a Sinhazinha.
-         Nada que você falar mudara está noite agora me conte o que houve.
-         Seu pai matou um dos escravos da fazenda.
-         Isso eu já sei você sabe qual escravo foi e porque ele fez isso?
-         Sinhá o porquê eu também acho que vosmicê sabe e o escravo que morreu foi o velho Nego Bento.
-         Minha nossa senhora, por isso que Rubens estava tão triste!
-         Meu povo sente a morte de Bento, agora cantam para Oxalá receber o nosso irmão.
-         Eu também sinto pela morte dele.
-         Mais a Sinhazinha sabe por que foi ocorrido não sabe?
-         Porque a pergunta Tonhá?
-         Porque Zâmbia estava na senzala, Surue me disse que o tiro era para Zâmbia e não para Bento.
-         Tonhá não me diga que quer me culpar!
 Eu estava ajudando um irmão seu a rever a mãe dele.
-         Mais essa ajuda trouxe desgraça na casa dos negros e se a Sinhazinha não parar com essa historia pode acontecer mais desgraças.
-         Desculpe-me Tonhà, mais você está sendo injusta comigo, eu só quis ajudar não queria ver ninguém morto e logo no dia do meu aniversario estou tão triste quanto qualquer um de vocês.
-         Com sua licença Sinhazinha, eu já estou indo me deitar, pois amanhã eu tenho que acordar bem cedo.
-         Então vá Tonhá e não me culpe pelo acontecido.
-         Até sinhazinha.
-         Até Tonhá.
-         Com sua licença Sinhazinha eu também vou me deitar.
-         Vá sim Surue e quanto aquele pedido que eu lhe fiz mais cedo, peço que guarde segredo.
-         Fique tranqüila Sinhazinha, eu não vou falar nada eu prometo.
-         Muita agradecida Surue, agora vá descansar antes que seus donos se levantem.     
Marta se retira da cozinha agora em direção a seu quarto, o som da musica que vem da senzala e misturada pelo canto do galo e latido de Pescador, mais nada que desperte o sono alheio de dentro da casa grande a não ser o Barão que não conseguiu pregar os olhos e Rubens que bem cedo estava de pé.
-         Bom dia Rubens.
-         Sua benção.
-         Por que tão cedo de pé?
-         Eu irei até a senzala para que o corpo de Nego Bento seja levado para a mata e lá seja enterrado.
-         Se você deseja enterra-lo, enterre-o apesar de não ser o costume.
E o que e isso em sua mão?
-         E a carta de alforria a qual eu tinha prometido ao Nego Bento, por favor, assine.
-         Eu não vejo o porquê assinar está carta Rubens ele já está morto.
-         Eu prometi alforria-lo pena que eu não lhe dei essa alegria em vida.
-         Meu filho eu, não queria ter atirado nele, estou muito arrependido e peço que me perdoe por isso.
-         Peça perdão a Deus meu pai, pois tirou a vida de um inocente um homem bom que deu sua vida e a sua morte na mão do senhor, agora, por favor, assine.
Rubens com um lençol e com a carta de alforria assinada na mão se retira da sala e segue para a senzala, chegando lá ele mesmo abre os portões da senzala onde os negros ainda cantam e choram, ele solta três negros da corrente e pede para que enrolem o corpo de Nego Bento no lençol que ele tem as mãos, Gil Pará pede para ajudar a carregar o corpo e é atendido por Rubens.
-         Ele era meu avô e morreu pedindo liberdade, Zâmbia a de pagar pela morte dele.
-         Zâmbia não foi o culpado ele se jogou na frente do tiro como um herói.
-         Negro nessa terra não e herói e apenas escravo Capitão.
-         Mais um dia isso a de mudar, agora vamos antes que se aperte o sol.   
Os negros carregam o corpo de Nego Bento para a mata, o capitão Rubens vai à frente com algumas ferramentas para que seja feita uma cova, lá na cidade na venda do senhor Credencio, Zâmbia já está de pé e aguarda que seu patrão se levante.
Zâmbia pensa no acontecido daquela noite sabe que o Barão não deixará por menos o acontecido, agora era aguardar o resultado daquela noite trágica.
Voltando a fazenda Meriza o Barão, vai até a senzala onde encontra Lourenço assentado.
-         Bom dia Barão.
-         Bom dia Lourenço pode colocar os negros na lida.
-         Sim senhor Barão.
-         Lourenço você não viu esse negro entrando aqui dentro da senzala ontem à noite?
-         Eu não estava aqui, Surue disse que Inhá Tonhá estava preparando um prato e bebida e que eu fosse comemorar o aniversario da sinhazinha Marta e que era ordem do patrão eu só vi o negro quando eu voltei, pois eu tinha esquecido a faca aqui.
-          Sei que homem de minha confiança Lourenço e pelo seu empenho esse escravo não conseguiu o que ele queria.
-         E o que ele queria Barão?
-         Ele queria soltar todos os seus irmãos libertar todos os escravos aqui da Meriza, hoje mesmo eu vou até a cidade para falar com o delegado Brandão a respeito disso e você vai comigo.
-         O senhor vai falar da morte do negro?
-         Eu sou um Barão e não tenho que esconder o que eu faço ou que não faço dentro das minhas propriedades, mais esse negro foi alforriado pelo próprio Imperador, e com essa política abolicionista que está acontecendo e bom ficarmos como avestruz pelo menos por enquanto, eu não quero levantar os olhos do Império para minha casa isso para os meus negócios seria péssimo.
-         O senhor tem toda razão Barão.
-         Agora vai e me chame Surue aqui eu preciso fazer algumas perguntas para aquele negro.
-         Sim senhor barão, eu já estou indo.
Lourenço segue para chamar Surue à desconfiança do barão Manolo sobre o acontecido daquela noite recai sobre alguém da casa, não se demora muito e os dois já estão de volta, Surue se coloca a frente do Barão que começa a interrogar o escravo.  
-         Surue quem deu ordens a você para chamar Lourenço aqui na senzala?
-         Ninguém patrão.
-         E você veio assim mesmo por livre espontânea vontade?
-         Sim senhor.
-         Lourenço coloque esse mentiroso no tronco e bata até ele falar, porque negro na minha senzala não tem vontade própria.
-         Sim senhor Barão.
O negro Surue temeroso com a ordem do Barão vai direto para tronco e Lourenço com um chicote de couro de boi dá chibatadas no escravo sem a mínima piedade, os gritos de dor de Surue são ouvidos pelos de mais negros da senzala.
-         Surue eu vou perguntar novamente, quem mandou que chamasse Lourenço para a casa grande?
-         Ninguém patrão.
-         Lourenço continue a bater, quando ele estiver disposto a falar pare!
-         Sim senhor Barão.
-         Dê cinqüenta e depois que voltar dos cafezais continue até ele falar!
Lourenço conta às chibatadas e o negro Surue já está quase desmaiado no tronco, o Barão volta para a casa grande onde aguarda os convidados a se levantar para o café sabe que isso acontecerá mais tarde pelo fato de todos terem ido dormir fora do horário habitual, e por esse motivo segue para o seu quarto para descansar.
-         Surue e melhor tu falar a verdade.
-         Falar que verdade Lourenço de um jeito ou de outro eu iria para no tronco.
-         Então realmente alguém o mandou me tirar da senzala ou você estava conluio contra o Barão com aquele escravo Zâmbia.
-         Eu nunca vou trair a confiança de uma pessoa, agora faça teu serviço e não me pergunte nada seu maldito.
O negro se espreme de dor agarrado ao tronco, mais ele sabe que sua promessa feita a Marta não poderá ser quebrada, ele estava disposto a morrer naquele tronco sem acusar a verdadeira autora do pedido.

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