quarta-feira, 15 de junho de 2011

Serra da Paixão

Zâmbia segue em direção à casa de pão que continua fechada à taberna de seu Edson já está com a porta aberta e padre Borges sem demora abre a porta da igreja.
-         Bom dia padre Martins.
-         Bom dia Borges, eu só estou um pouco cansado da festa de ontem eu já não sou mais um garoto.
-         E a festa foi um pouco cansativa.
Padre Martins quem e aquele rapaz na frente da padaria?
-         O nome dele e... Agora eu não me lembro, mais ele trabalha para Credencio.
-         Ele tem um olhar tão triste que comove a gente.
-         Chame-o para uma conversa Padre.
-         Eu vou chamá-lo, mais agora vamos preparar a santa missa.
-         Eu vou até a Casa de Pão quero pegar o pão ainda quente.
-         Mais a Casa de Pão ainda nem abriu a porta.
-         Vai preparando a igreja Borges!
Aos poucos à frente da Casa de Pão vai se enchendo de moradores a procura de pão fresco, Pascoal não se demora muito e abre as portas.
-         Zâmbia traga o meu!
-         Sim senhor seu Edson, eu levarei ai para o senhor.
-         Zâmbia esse e o seu nome?
-         Sim Zâmbia e o meu nome.
-         Eu sou padre Martins, eu conheço quase todos bons cristões na cidade e você novo por aqui.
-         Sou sim Padre a pouco moro na cidade.
-         E de onde veio?
-         Da senzala, dificilmente um mulato sai de outro lugar.
-         Fugiu de alguma senzala?
-         Não sou fugido eu sou livre.
-         E qual foi o Barão que te deu a liberdade?
-         Barão nenhum Padre.
-         E como pode ser livre?
-         E uma longa historia
-         Eu tenho muito tempo, eu gostaria que você fosse à igreja quando você tiver um tempo lá na venda.
-         Quando eu estiver com meus afazeres prontos eu irei.
-         Bom então eu vou ficar te aguardando.
-         Até Padre.
O padre Martins como uma autoridade e o primeiro da fila, Zâmbia se coloca no final da fila e burburinhos dos fregueses sobre sua presença correm em ouvido em ouvido.
-         Sua benção padre Martins?
-         Que Deus te abençoe Pascoal.
-         Mais que tanto comentam esse povo todos uns ignorantes não podem ver um mulato em uma fila que pensam logo que e bicho!
-         E a doença chamada racismo meu bom Pascoal, e o pior que ainda não inventaram cura para essa doença.
-         Os abolicionistas estão ganhando terreno logo terão de se acostumar.
-         Esperemos bom Pascoal.
-         Mudando de assunto Padre, bela festa a da menina Marta?
-         E muito bela seus pais devem estar muito contente com o noivado.
-         E logo teremos mais uma festa para celebrar o casamento.
-         A família do noivo quer fazer o casamento aqui na cidade.
-         Isso e muito bom Padre os filhos de Resende tem que prestigiar a sua igreja.
-         Minha igreja não Pascoal e sim de Deus Nosso Senhor.
-         Está aqui prontinho padre Martins.
-         Obrigado Pascoal logo eu voltarei para lhe entregar o cesto.
-         Até padre Martins.
Pascoal atende os fregueses um a um rapidamente para que seu pão não esfrie a sua melhor frase e que o pão bom e o pão quente, Zâmbia aguarda sua vez pacientemente sem se incomodar com os burburinhos e logo chega sua vez. 
-         Quantos pães Zâmbia?
-         O de sempre Pascoal, e me vê o de seu Edson.
-         Esse italiano sempre abusando da boa vontade das pessoas.
-         Não me incomodo na verdade eu gosto do seu Edson ele não fala mal da minha pessoa e nem da minha cor.
-         Você não deve se incomodar com o que os outros falam você e uma boa pessoa e isso que importa e ser negro não e pecado Zâmbia.
-         Muito agradecido Pascoal, eu ouvi você falando ao padre de um noivado.
-         E ontem foi o noivado de Marta você deve conhecer ela filha do Barão o dono da fazenda Meriza a qual você foi escravo.
-         Conheço sim.
-         Foi uma bela festa toda a sociedade de Resende estava lá.
-         Eu acredito que tenha sido e correu tudo bem?
-         Correu sim, mais o porquê da pergunta Zâmbia?
-         Só curiosidade e ouvi seu Credencio comentar que houve disparo de arma de fogo durante a festa.
-         Foi sim um animal foi sacrificado e uma pena.
-         E verdade os animais quando não nos servem mais são sacrificados.
-         Mais esse foi por uma boa razão Zâmbia ele estava com a pata quebrada e já era um animal velho.
-         Animal velho já não tem serventia para os Barões.
-         Já está pronto diga ao seu Edson e ao seu Credencio que está marcado na caderneta.
-         Eu dou o recado.
-         E não se esqueça de trazer o cesto.
-         Não esquecerei muito agradecido.
Algumas pessoas ainda não se recuperaram da noite festiva, e o caso de Lindolfo que ainda dorme mais Linda já está de pé aguardando o cuscuz que lhe prepara sua mãe enquanto seu pai tira o leite da vaca.
-         E a festa Linda como foi?
-         Foi linda mamãe tudo do bom e do melhor afinal a Marta ficou noiva.
-         E você e o Miguel, aproveitaram bem a festa?
-         Sim mamãe, nós dançamos e nos divertimos bastante.
-         Vejo que você está bastante contente em ele ter te convidado!
-         Sim eu fiquei muito contente e hoje ele virá aqui conversar com o papai ele que me fazer à corte, isso se o papai deixar.
-         O Miguel e um bom rapaz seu pai não deve fazer nenhuma objeção.
-         Tomara mamãe.
-         E Lindolfo ainda não acordou?
-         Ainda não ele deve está muito cansado ele ainda passou na taberna de seu Edson como era de se esperar chegou meio atrapalhado de vinho.
-         O Lindolfo não toma jeito.
-         Quem não toma jeito?
-         Linda está falando de Lindolfo meu velho.
-         Este rapaz eu ainda do jeito nele acredita que ele não conseguiu entrar em casa ficou na porta se eu não abro a porta e o coloco para dentro ele ainda estaria lá.
-         E o vinho em excesso ele não dosou direito.
-         Bem vamos tomar nosso café e mais tarde eu conversarei com ele.
-         Eu já estou com água na boca só de ver este cuscuz que a mamãe preparou.
-         Eu também Linda e com este leite vai ficar perfeito.
-         Bom apetite papai.
Enquanto Lindolfo dorme o sono do justo e Linda delicia o cuscuz de dona Alma na fazenda do doutor Brás todos já estão postos a mesa enquanto aguardam o café que e feito por Zenaide.
-         Cadê o café Zenaide?
-         Já está saindo doutor Brás.
-         Não aprece Zenaide se não este café vai sair muito forte ou muito fraco Brás.
-         Está bem Inês, eu não vou apressá-la.
Miguel o que você irá fazer hoje?
-         Eu pensei em dar um pulo até o consultório, mais tarde.
-         Isso e muito bom Miguel talvez você possa fazer algumas modificação, que sabe alguma novidade da cidade grande.
-         E vamos ver pai se alguma coisa possa ser melhorada, depois eu irei à casa do senhor Antonio.
-         Algum problema com seu cavalo?
-         Não papai meu interesse lá e outro, eu vou pedir para fazer a corte a Linda, espero que não se importem.
-         Não faço nenhuma objeção se isso o que deseja.
-         E a senhora mamãe?
-         Eu gosto de Linda a família do senhor Antônio e uma família pobre mais muito honesta, mais eu acho um pouco precipitado de sua parte.
-         Mamãe quem será que pode mandar nos sentimentos? Eu gosto de Linda e sempre gostei e nunca foi novidade nesta casa e por esse motivo não vejo nenhuma pressa.
-         E verdade isso já era esperado pelo menos de sua parte.    
-         E você minha irmã o que acha?
-         Eu fico muito contente com sua escolha e também não vejo novidade alguma todos aqui sabe que desde pequeno você e apaixonado por Linda.
-         Fico mais feliz já que todos me apóiam papai eu queria também marca um almoço aqui na fazenda com a família de Linda.
-         Bem Miguel marque e avise sua mãe da data, pois eu quero recebê-lo muito bem.
-         Está bem papai, mais eu quero lembrar que eles são pessoas bastante simples e que não se preocupe com tanto luxo.
-         Eu conheço aquele povo antes de você nascer meu filho ou você esqueceu que Alma era minha escrava e Antonio meu Capitão do Mato, eu sei quem são eu vi Linda e Lindolfo nascerem e já ferrei muitos cavalos na mão de Antonio.
-         Eu sei papai agradeço por sua compreensão.
-         Algum comentário sobre a festa de ontem?
-         Nada a comentar a não ser o belo vestido de Marta.
-         Achas mesmo que aquele noivado possa dar certo pai?
-         Maria há tempos que muitos se casam assim não será a primeira ou ultima vez que acontecerá minha filha.
-         Mais que um tanto estranho isso e, ainda bem que o senhor não pensa como os antigos.
-         Eu só penso na felicidade de vocês, seja com Hermes o com Linda o com quem vocês escolherem se for de bem não faço objeção.
O sorriso de Miguel da à resposta a aprovação de seu pai, agora Miguel só precisa oficializar o compromisso junto ao pai de Linda.

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